segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sequência Didática - Crônica


Plano de aula

Objetivos: Que o aluno consiga reconhecer o gênero, tipologia e a qual esfera social pertence, através das estruturas composicionais.

Objeto de aprendizagem: Texto "Pausa" de Moacir Scliar e vídeo "Vida Maria", é um projeto premiado no "3º Prêmio Ceará de Cinema e Vídeo", realizado pelo Governo do Estado do Ceará. O curta ilustra o Processo de identidade, ensinado no curso Professional & Self Coach, PSC. disponível em : http://www.youtube.com/watch?v=C-pCYuNeG-k


Conteúdo: gênero crônica, tipologia narrativa

Tempo estimado de 8 à 10 aulas.

1º Momento:

Apresentação do curta, vídeo, de 8 minutos. 



Após assistirem o vídeo, fazer a provocação através das questões que façam inferirem com as características da narrativa:


  • Quem eram as pessoas do vídeo?
  • Qual o local e como era o local que se passava a cena?
  • Quando?
  • Como começa o que acontece e como termina?


       Atividade Oral: Conte a história de duas maneiras: (intenção de perceberem o foco narrativo)
  1.  Você sendo um dos personagens;
  2.  Você sendo o observador (fofoqueiro).
2º Momento:

Pedir para formarem grupos;

Distribuir o texto “Pausa” de Moacyr Scliar em seguida:


Fonte de imagem arquivo pessoal de viagem a Jericoacoara - CE
.
1ª leitura feita pelo professor.
PAUSA

Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro. Fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
            —Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
            —Todos os domingos tu sais cedo – observou a mulher com azedume na voz.
            —Temos muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
Ela olhou os sanduíches:
            —Por que não vens almoçar?
            —Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse a carga, Samuel pegou o chapéu:
            —Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente, ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
            —Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
            —Estou com pressa, seu Raul – atalhou Samuel.
            — Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre - Estendeu a chave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
            —Aqui, meu bem! – uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta a chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho: a um canto, uma bacia cheia d’água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a move-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido. 
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por um índio montado o cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhando de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.

Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, levou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
            — Já vai, seu Isidoro?
            —Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
            —Até domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente.
            —Não sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caia.
            —O senhor diz isto, mas volta sempre – observou o homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo dos cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa. 

(in: Alfredo Bosi, org. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1977. p. 275)


2ª leitura compartilhada pelo grupo, mas agora será encenado pelos alunos conforme os turnos dos personagens e o narrador.

        O professor irá explanar com as questões nas quais os alunos se identificarem nos seus papeis na leitura, inferindo as características da tipologia narrativa.
        Após esse momento, o professor criará um clima de comentários da seguinte forma:
Levará uma caixa, pedirá que os alunos sem se identifiquem, anotarão no papel que semelhanças e diferenças encontraram nos objetos de aprendizagem, ou seja, do curta e do texto lido.
        Pedirá que alguém se candidate a lê-los e paralelamente o professor anotará na lousa em sua respectiva coluna. Apresentará assim as características da crônica, finalizando com a questão “onde, quando e onde isso acontece?”. Mediando assim que cheguem a resposta que isso acontece em nosso cotidiano, ou seja, são relatos de acontecimentos comuns de nossos dias.
        Em grupos farão uma apresentação seja oral (encenação ou leitura) ou escrito (deixar livre escolha neste momento).
        Ao final das apresentações iniciais do gênero, a sala escolherá a melhor apresentação com premiação à negociação.
3º Momento:
Ao encerrar a aula das apresentações, o professor pedirá que façam uma crônica escrita e que utilizem tudo que aprenderam nas etapas e entreguem na próxima aula.
4º Momento:
Este momento estará direcionado à entrega dos trabalhos somente lido, porém o professor já tenha feito o registro dos avanços alcançados, mas não para os respectivos autores e sim para os colegas (troca), para exercerem o papel social de leitor e crítico, em seguida a leitura em voz alta falará se a crônica produzida correspondeu às características levantadas nas aulas anteriores e após o término das leituras o autor será questionado se concorda e que outro ajuste se faz necessário.
        O professor recolherá a produção e pedirá que o aluno refaça a produção, a qual se dará de memória e não de cópia que valerá também como complemento da avaliação. Após a leitura do professor desta última produção o professor devolverá as duas produções para que os alunos possam confrontá-las e reflitam se melhoram e onde precisam retomar as características do gênero estudado.

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